Antecedentes da Revolução
No início do séc. XIX, Portugal era ainda um país de Antigo Regime, cujo modelo político era uma monarquia absolutista que era suportada por órgãos repressivos como a Inquisição, a Real Mesa Censória e a Intendência-Geral da Polícia. A sua economia baseava-se na agricultura tradicional e no comércio colonial, cujo atraso manufactureiro colocava o país na margem da Revolução Industrial que já tivera lugar noutros países europeus. Acrescentava-se ainda o facto da sociedade ser hierarquizada, na qual o atraso cultural era notório.
Apesar disto, em finais do séc. XVIII, os ideias liberais tiveram entrada em Portugal através: dos estrangeirados, uma elite intelectual que estava a par das novidades culturais (incluindo obras iluministas) que vinham principalmente da França; dos exilados franceses, que se haviam deslocado para Portugal durante o Terror e o período da Convenção; dos exilados portugueses no estrangeiro, que haviam fugido às perseguições do aparelho do Estado e que se tinham fixado maioritariamente em Inglaterra e em França e que regressaram do exílio depois das invasões napoleónicas; e da maçonaria, instituição secreta que teve um papel fundamental na divulgação do Liberalismo.
Divulgados por todos estes meios, os ideais liberais - designados por jacobinismo na época - encontravam-se bem difundidos entre a elite intelectual portuguesa de finais do séc. XVIII, e levou mesmo à criação de associações como o Sinédrio, no Porto, em 1818, que foi responsável pela eclosão da Revolução de 1820.
As invasões napoleónicas
Entre 1807 e 1811, Portugal sofreu três invasões francesas decretadas por Napoleão devido ao país não ter acatado o bloqueio continental contra Inglaterra, isto é, Portugal não havia fechado os portos a Inglaterra de modo a que esta não pudesse comercializar com os países europeus. Estas, além de provocarem não só perdas humanas e materias, também abalaram a economia, que era frágil por si só, e instalaram o caos político e social.
Já em 1807, estas invasões foram a causa da fuga do Rei e da Corte para o Brasil (caso contrário, se o Rei fosse capturado, Portugal perderia a sua independência), deixando o reino entregue a uma regência. Assim, o país mergulhou na condição de colónia da sua principal colónia, o que se tornou ainda mais evidente após o rei permitir a abertura dos portos brasileiros ao comércio internacional em 1808, e em 1815, ter elevado o Brasil à categoria de reino, onde D. João VI permaneceu mesmo depois das tropas francesas terem sido afastadas. Desta maneira, quando o Rei levou a Corte para o Brasil, abandonou uma grande parte de terra que não ficou a render, o que fez com que a produção fosse muito reduzida, e o país fosse obrigado a importar. Portugal estava, assim, prestes a cair na bancarrota.
Outra consequência das invasões napoleónicas foi o facto do país ter sido dominado pelo general inglês William Beresford. Inicialmente com o objectivo de expulsar as tropas francesas do território Português, tropas inglesas vieram auxiliar as portuguesas na sequência da aliança entre os dois países. Contudo, após ter sido eleito presidente da Junta Governativa, Beresford abusou do poder que lhe foi atribuído, colocando oficiais britânicos nas mais altas patentes do exército português, controlando o funcionalismo e a polícia (perseguindo os simpatizantes do jacobinismo) e dirigindo a economia. Chegou mesmo a aumentar a importação de cereais de Inglaterra para Portugal com o evidente objectivo de beneficiar a primeira. O seu governo autoritário e repressivo foi tido como uma afronta e humilhação, tal como criticavam os pasquins da época:
Quem perde Portugal?
- O Marechal.
Quem sanciona a lei?
- O rei.
Quem são os Executores?
-Os governantes.
Para o Marechal,
- um punhal,
Para o Rei,
- a Lei!
Para os governadores,
- os executores!
Beresford [na figura acima] deveria assim obedecer às leis reais e aos (verdadeiros) governantes do Reino.
Em suma, e terminadas as invasões francesas em 1811, a situação política do reino manteve-se inalterável até 1820 com o rei no Brasil e Beresford a governar Portugal, enquanto que a situação económico-financeira se agravava de dia para dia, devido às despesas da guerra e pela diminuição das receitas. A economia portuguesa passava por uma grave crise que se deveu, por um lado, à abertura dos portos brasileiros ao comércio estrangeiro, que havia funcionado como um meio de escoamento dos produtos portugueses até 1808, e cujos produtos coloniais eram revendidos na Europa. Por outro lado, a abertura do espaço económico interno aos Ingleses agravou a economia portuguesa, visto que os produtos britânicos venciam na concorrência com os produtos nacionais graças à sua melhor qualidade e preço mais barato. Este facto prejudicava, realmente, o interesse da burguesia industrial e comercial, e por esta razão, este sector constituía-se o mais descontente e revoltado com toda a situação do país.
Revolução de 1820
Desta maneira, organizada e planeada pelo Sinédrio, organização secreta fundada por Manuel Fernandes Tomás em 1818, a Revolução de 1820 foi despoletada. Durante a ida de Beresford à corte, no Rio de Janeiro, os maçons e burgueses do Sinédrio aproveitaram para fazer um pronunciamento militar, do qual nasceu a Revolução de 1820.