quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

A hegemonia económica britânica

      Como já referido, a Inglaterra durante o séc. XVII verificou um grande desenvolvimento económico, tendo mesmo superado a Holanda já no séc. XVIII. Aderiu, pois, ao mercantilismo através do Acto de Navegação de Cromwell, na mensagem abaixo descriminado, com a finalidade de gerar uma independência económica face à Holanda. Esta medida mercantilista inglesa foi um passo bastante importante no desenvolvimento manufactureiro, devido ao investimento na indústria naval. Este desenvolvimento constituiu um dos factores condutores à hegemonia económica britânica.
      Contudo, a explosão demográfica que teve lugar no decorrer do séc. XVIII, consequente da diminuição da mortalidade provocada pelas inovações no campo da medicina, pela melhoria das condições higienico-sanitárias e pelo facto de haver uma melhor alimentação (introdução da batata na alimentação da população, bem como da carne fornecida pela criação de gado), beneficiou o desenvolvimento da manufactura, através da libertação de grande parte de mão-de-obra para as oficinas manufactureiras. Esta foi, pois, uma das medidas tomadas durante a Revolução Agrícola, que foi necessária para o arranque da Revolução Industrial.
      Portanto, durante esta Revolução Agrícola, foram aplicadas várias medidas como a criação de enclosures (vedações) para o gado, libertando-se a mão-de-obra que anteriormente trabalhava no campo a vigiar o gado, e se deslocava para as cidades (essencialmente Londres), que possuíam melhores condições urbanísticas - urbanização. Além disto, o desenvolvimento da maquinaria (criação da máquina a vapor, por exemplo) e o facto de se anexarem baldios para aumentar as áreas cultiváveis, acabando assim com os pequenos proprietários, permitiram a libertação de ainda mais mão-de-obra para trabalhar nas oficinas das cidades. Juntando a tudo isto, desenvolveu-se o sistema quadrienal de rotação de culturas que substituiu o anterior sistema trienal, aumentando a produção e tornando os produtos mais baratos devido à produção em massa. Além disto a agricultura servia como um meio de abastecimento das oficinas manufactureiras com matérias-primas, que tanto podiam ser obtidas no próprio país (se tivesse alguma fonte) ou sendo uma excepção nas importações. Ainda ligada à Revolução Agrícola, a criação de instrumentos de ferro, mais resistentes do que os de madeira, melhoraram o cultivo das terras e estimularam a indústria, contribuindo para a Revolução dos Transportes, igualmente importante devido à facilidade da distribuição dos produtos para os mercados não só interno, mas também externo.


Revolução dos Transportes: Locomotiva a vapor


                                         Máquina a vapor de James Watt


      Entre os restantes factores que levaram a Inglaterra a ascender, está a sua crescente prosperidade financeira, que muitos países europeus não conseguiram alcançar. Tendo uma moeda cujo valor era bastante estável (a libra esterlina), a Inglaterra ganhou a confiança extrema de muitos mercadores, que frequentemente recorriam ao Banco de Inglaterra, situado na próspera cidade de Londres. Este banco foi o primeiro a emitir notas (produção de dinheiro), aceitando também depósitos, operações de transferência e desconto de letras de câmbio. Sendo um banco de depósitos, qualquer indivíduo podia depositar pequenas poupanças que poderiam vir a criar empresas. Era, pois, um estímulo ao investimento, pois o dinheiro depositado ao ser emprestado gerava mais dinheiro depois de devolvido, e Londres tornou-se um importanto centro económico, substituindo Amesterdão. Assim, "tudo ia lá dar, e tudo de lá saía de novo, quer para o mercado interno, quer para fora", como afirmava Fernand Braudel.

      Esta prosperidade financeira faltou, porém, em bastantes países europeus, cuja organização bancária era deficiente, ou seja, não havia um desenvolvimento do sistema capitalista-financeiro, devido ao não incentivo às poupanças privadas, o que impedia assim o investimento necessário ao desenvolvimento económico.


Londres - séc. XVIII


      Finalmente, a criação de Companhias monopolistas inglesas, como a Companhia das Índias Orientais, permitiu à Inglaterra a detenção do exclusivo comércio com a Índia, por um preço que os ingleses decidiam. Ao obter e trabalhar as matérias-primas em excesso, a Índia foi ainda capaz de desenvolver as manufacturas ao ponto de as produzir e exportar dentro do próprio país. A Inglaterra criou, ainda, colónias numa parte de África e da América, participando assim no chamado comércio triangular e no tráfico negreiro. Exportava os seus produtos para a África, trocando-os por escravos, que eram transportados para as minas da América. Daí, eram importados produtos como o açúcar, o tabaco, o algodão e os metais preciosos.

      A Inglaterra benificiou, desta maneira, tanto com o comércio interno, como com o comércio externo, produzindo manufacturas em massa, e conseguindo que grandes quantidades de metais preciosos dessem a sua entrada no país. Tudo isto foi possível devido à sua burguesia dinâmica que sabia, pois, investir no desenvolvimento económio e financeiro do país, tornando Londres no centro da economia, e Inglaterra na primeira grande potência.